Cimeira insular fervilhante em São Miguel, com o Marítimo a alcançar empate após desvantagem por 2-0 ao intervalo

O Marítimo apresentou-se no Estádio de São Miguel, nos Açores, com alterações na formação titular. Vasco Seabra viu-se privado do homem que, na última partida, assinou um hat-trick. Castigado, Joel foi rendido por Alipour na frente de ataque. Diogo Mendes também regressou ao “onze” de Seabra, substituindo Rossi, jogador que se juntou a Joel na suspensão por acumulação de amarelos. Clássico insular do futebol português em Ponta Delgada, com o Marítimo a desfrutar, de novo, de significativo apoio nas bancadas.

Falsa partida do Marítimo. Logo aos 4 minutos, Tagawa inaugurou o marcador após cruzamento de Alano que não encontrou oposição quando galgou metros no flanco esquerdo. Tal como havia acontecido na primeira volta, o Santa Clara surpreendeu o Leão do Almirante Reis com um golo precoce. Reagiram os madeirenses, com Alipour a isolar-se pelo lado direito, antes de cair já no interior da área. Sem falta, o árbitro esteve bem e não assinalou grande penalidade.

O golo prematuro suscitou uma natural reacção do Marítimo, mas o guardião Marco nunca foi posto à prova durante os primeiros 20 minutos. Bem o Santa Clara a condicionar bastante Xadas, no meio, sempre muito vigiado. Jogo de paciência perante um Santa Clara confortável, em vantagem no marcador e inteligente na pressão zonal. Muitas dificuldades para o Marítimo na construção a partir dos centrais, como é apanágio da equipa comandada por Vasco Seabra. Até aos 30 minutos, os madeirenses beneficiaram de cantos e livres, tentativas de incomodar Marco que se revelaram infrutíferas. Aos 32 minutos, e de novo pelo lado esquerdo do ataque açoriano, Alano isolou Tagawa, japonês que picou a bola sobre Paulo Victor e dilatou a vantagem. Entorpecido o Marítimo, incapaz de fechar portas. Agradeceu o Santa Clara. Missão muito difícil para o Marítimo na cimeira insular do principal campeonato português. Eficácia absoluta dos açorianos. Dois remates, dois golos. E esteve perto de manter imaculada a eficácia. Aos 43 minutos, Ricardinho, com um potente remate, obrigou Paulo Victor a uma grande defesa. Já bem perto do apito para o intervalo, Alipour voltou a reclamar grande penalidade. Pelas imagens, esteve bem o árbitro. Está contada a história da primeira parte.

O Marítimo regressou ao relvado de São Miguel com face renovada. Xadas e Henrique cederam os seus lugares a Rafik e Vidigal. Mexidas que já se previam, tendo em conta a desvantagem e a necessidade de estimular dinâmicas atacantes. Entrou forte o Marítimo, com Edgar Costa a conquistar um canto. Esteve perto do golo o Leão do Almirante Reis, mas Rafik falhou o cabeceamento. Indícios auspiciosos para uma segunda parte na qual se esperava muito mais do Marítimo. Aos 48 minutos, Alipour pressionou Ricardo Fernandes, guardião que rendeu Marco, lesionado. A obstinação do iraniano rendeu um canto, na sequência do qual o Marítimo esteve perto de reduzir, após corte de Mikel que quase traía Ricardo Fernandes. Aos 51 minutos, nova desatenção do último reduto verde-rubro a permitir que Tagawa surgisse na cara de Paulo Victor. O desvio não foi feliz e o japonês perdeu a possibilidade de assinar um hat-trick. Alívio para os madeirenses.

3 cantos em 8 minutos para o Marítimo, números que reflectem a maior pressão exercida pelos verde-rubros após o repouso. Aos 56 minutos, uma recuperação de bola de Diogo Mendes proporcionou saída rápida, com Vidigal a isolar-se e a reduzir a desvantagem. No entanto, André Narciso, após consultar o VAR, anulou o golo ao descortinar falta de Diogo Mendes. Muitas dúvidas. Desilusão para os madeirenses que não se sentiram abalados. Continuava o Marítimo a agredir o último reduto açoriano. Numa incursão pela direita, Winck ultrapassou adversários e caiu quando já se aproximava da área. André Narciso mandou seguir. Apesar de não ter conseguido marcar, os rapazes do Almirante Reis já justificavam o golo que renovaria as esperanças. Aos 62 minutos, foi Alipour a esgueirar-se pelo corredor direito e a rematar forte, mas ao lado. Novo susto para o Santa Clara, equipa que acabaria por ver a sorte ausentar-se aos 63 minutos. Brilhante trabalho de Vidigal pelo lado esquerdo, após passe do Capitão Edgar Costa, com o extremo a conquistar a linha e a cruzar para o cabeceamento fulminante de Alipour. 2-1 no Estádio de São Miguel. Transfigurado e muito vivo o Marítimo.

Já com o maestro Beltrame em campo, o Maior das Ilhas continuava a amedrontar os açorianos. No banco, Seabra voltava a introduzir mudanças. Aos 70 minutos, Miguel Sousa saltou para o terreno. Saiu Diogo Mendes. Pouco depois, Vidigal conquistou espaço pelo lado esquerdo. O cruzamento encontrou Rafik em boa posição para alvejar a baliza açoriana. Foi crucial o corte do defensor. Na resposta, o Santa Clara esteve na iminência de dilatar a vantagem. Tagawa, sempre Tagawa, cabeceou sem oposição e sem a mira certa. Do outro lado, Vidigal mantinha-se endiabrado. Laivos artísticos, velocidade, empenho e a cabeça dos defesas contrários em água. Cimeira insular fervilhante nos Açores.

O Capitão Edgar Costa, exausto, cedeu o seu lugar a Clésio aos 77 minutos, moçambicano que ocupou o corredor esquerdo, divergindo Vidigal para o apoio central a Alipour. Arriscava tudo Vasco Seabra em busca de mais. Os últimos 10 minutos chegaram com o Marítimo a empurrar o Santa Clara para o seu último terço, embora os açorianos nunca descurassem o contra-ataque. Cantos sucessivos para o Marítimo, resultado incerto. Notável reacção dos madeirenses após uma primeira parte muito distante do que Seabra idealizava. Notável ao ponto de merecer, sem mácula, o empate que surgiu aos 85 minutos. Cruzamento largo de Clésio e Cláudio Winck, muito audaz após o intervalo, a desviar de cabeça, ao segundo poste, para o empate. O Maior das Ilhas a explicar, nos Açores, essa fama secular.

O relógio aproximava-se dos 90 minutos e o Marítimo queria mais. Porque “o Marítimo já não se contenta com empates”, disse Seabra há algumas semanas. E não saímos contentes com o empate, apesar de termos chegado ao intervalo a perder por 2-0. Mérito para o Maior das Ilhas, porta-estandarte de um povo que nunca se verga e nunca se rende. Mérito para o Santa Clara, formação açoriana que se juntou ao Marítimo nesta celebração do Futebol com matizes insulares.

Um abraço e felicidades para os nossos irmãos açorianos.

Saudai o Marítimo.