O Marítimo realizou uma exibição com laivos de arte e alcançou, à condição, o 6º lugar. Resultado escasso para uma equipa que desperdiçou inúmeras oportunidades. Jogo em Moreira de Cónegos entra para a História do Maior das Ilhas, com cerca de 217 adeptos (números oficiais) inexcedíveis no apoio ao Leão do Almirante Reis

Jogo muito especial para a Família Maritimista. Em Moreira de Cónegos, ‘O Maior das Ilhas’ subiu ao Estádio Comendador Joaquim de Almeida Freitas com um imenso estímulo oriundo das bancadas. Não há memória de tamanha falange de apoio em território continental, exceptuando as finais da Taça de Portugal e da Taça da Liga. Cerca de duas centenas de indefectíveis Maritimistas rumaram ao Minho para apoiar “os endiabrados campeões das ilhas”. Viveram-se momentos solenes: o hastear da nossa bandeira e a chegada do autocarro da equipa aceleraram o compasso cardíaco, com vozes ao alto na ‘saudação ao Marítimo”.

Poucos minutos antes de se iniciar a partida, a realização da Sport TV focou, por diversas vezes, as hostes verde-rubras. No banco, os jogadores retribuíam o fervor, com Joel e os madeirenses Edgar Costa e Pelágio particularmente empenhados na resposta a quem cruzou céu, mar e terra até ao norte do país.. Entre o fervor, a celebração da paz e rejeição de qualquer conflito bélico. Nas bancadas, os adeptos insulares exibiam cartolinas com as cores ucranianas. Dentro de campo, Moreirense, Marítimo e a equipa de arbitragem envergavam camisolas com o azul e amarelo do estandarte ucraniano. Sobre a bandeira, “paz”. Que o futebol e o desporto sejam sempre promotores da concórdia. E que “paz” não seja, somente, palavra pintada a tinta d’água.

Para o duelo frente ao Moreirense, os rapazes do Almirante Reis estrearam a nova pele: camisola alternativa toda vermelha. Vasco Seabra promoveu uma única alteração no “onze”. Cláudio Winck regressou aos titulares, depois de cumprir castigo. Clésio, autor de uma bela exibição frente ao Sporting, apresentou-se como alternativa entre os suplentes às ordens de Seabra. Os primeiros 10 minutos revelaram um Marítimo com a ambição de ter bola, perante um adversário que procurava explorar transições rápidas. Aos 13 minutos, boa construção do Marítimo pelo lado esquerdo, com Vidigal a divergir para o centro. Em boa posição para alvejar a baliza de Pasinato, foi Pablo, ex-central verde-rubro, a frustrar os intentos do nosso extremo. Na resposta, já perto dos 20 minutos, sucessivos remates frontais do Moreirense, mas a linha defensiva insular evitou que o esférico ameaçasse Paulo Victor.

O primeiro canto da partida beneficiou o anfitrião. Pedro Amador ganhou a linha, cruzou e Victor Costa, prudente, desviou para canto. Sem consequências, os Leões insulares retaliaram com a obtenção de outro canto. Por trás da baliza do Moreirense, a expectativa dos Maritimistas aumentava. Os cânticos também. Cobrado por Xadas, o primeiro canto para o Marítimo foi sacudido pela defesa anfitriã. Logo depois, Rafik, em lance individual, ganhou uma falta no flanco direito, já perto da área. Na conversão do livre, o desvio de Winck por pouco não resultou em golo.

O Marítimo começava a ameaçar com mais insistência, o Leão afiava as garras. E o primeiro golpe foi aplicado bem perto dos 30 minutos. Após canto do lado direito, a bola atravessou a área e chegou a Vidigal. Cruzamento com fita milimétrica e Matheus Costa, o central voador, a elevar-se ao segundo poste para o golo do Marítimo. Rimas da vida: o Marítimo inaugurava o marcador na baliza junto da qual estavam os Maritimistas. Euforia, alegria, a grande beleza que se acentuou com o festejo de Matheus Costa e dos seus colegas junto dos nossos peregrinos.

Matheus Costa, autor do golo e “homem do jogo”

A equipa de Sá Pinto procurou reagir. Aos 38 minutos, um remate à malha lateral de Paulo Victor indiciava a vontade de equilibrar a contenda, apesar da superioridade territorial dos madeirenses. Nos últimos 5 minutos da primeira-parte, o Marítimo baixou o bloco, manteve a coesão e tentava saídas rápidas. Foi o que aconteceu aos 42 minutos. Combinação entre Vidigal e Xadas, com o esquerdino a encontrar Alipour, mas o iraniano chegou ligeiramente atrasado. Mérito para Pasinato, arrojado na saída aos pés do avançado verde-rubro. Pouco depois, o árbitro apitava para o descanso com o Marítimo em vantagem. Descanso, também, para as gargantas dos nossos adeptos, impulsionados pelos Fanatics13, que estiveram em rotação incessante.

O grupo de adeptos ‘Fanatics13’ mobilizou-se em grande número na expedição a Moreira de Cónegos

As equipas regressaram ao relvado sem alterações. Logo na primeira jogada, bola dividida entre Beltrame e Rafael Martins. Na sequência, pequeno desaguisado entre os atletas. O árbitro Nuno Almeida puxou do amarelo e admoestou o “maestro” do Marítimo. Difícil de entender. O Marítimo ensaiou alguns lances de ataque, com a bola a circular entre sectores. Numa dessas jogadas, Vidigal apareceu em boa posição, mas perdeu tempo de remate. O Moreirense, através de canto, ameaçou Paulo Victor. Seguro, o guardião brasileiro susteve o cabeceamento de Pablo. Depois, fez-se arte: sinfonia nº10 para ferros e percussão, por Stefano Beltrame: um remate portentoso do italiano à barra de Pasinato. O eco da bola no ferro foi bem audível. Mamma mia! O Marítimo esteve perto, muito perto, do segundo golo. Nas bancadas, ouvia-se “Força grande Marítimo, tu és a nossa paixão, tu és o Leão do Almirante que vive no nosso coração.”

Seabra mexeu na equipa à passagem dos 55 minutos. Saíram Rossi e Alipour, rendidos por Diogo Mendes e Joel Tagueu. Na primeira intervenção de Joel, Nuno Almeida admoestou o camaronês por falta sobre o central minhoto. Aos 60 minutos, Victor Costa foi ultrapassando barreiras e ofereceu o esférico a Xadas, com o esquerdino a desferir um potente remate por cima da barra. Aos 65, recuperação de bola de Joel e Rafik aparece isolado pelo lado direito. O francês hesitou entre o remate e a assistência, gorando-se a possibilidade de dilatar a vantagem insular.

Vasco Seabra voltava a mexer no “onze”. A 20 minutos do fim, Edgar Costa e Henrique Rafael substituíram Xadas e Rafik. Aos 75 minutos, depois de algum assédio do Moreirense, André Vidigal executou um remate em arco, a partir do flanco esquerdo. Defesa da tarde para Pasinato: a bola encaminhava-se para o ângulo superior esquerdo da baliza anfitriã. De novo, o Marítimo a justificar o segundo golo. Aos 78, três para um: Joel, Vidigal e Winck perante um central do Moreirense. Foram perdulários os verde-rubros. Novo susto para os homens da casa que continuavam vivos no jogo, fruto das oportunidades desperdiçadas pelos madeirenses.

Últimos 10 minutos e nova ocasião para Marítimo. Excelente passe longo de Vítor Costa, primorosa recepção de Henrique Rafael, mas a tentativa de “chapéu” foi mal medida. O Marítimo esbanjava oportunidades. Nesta altura, a equipa de Seabra já poderia estar muito confortável, mas a verdade é que a vantagem mantinha-se curta. Seabra, consciente dos riscos, retirou Vidigal – autor de uma notável exibição – e lançou Leo Andrade. Trancas à porta. Já nos descontos, nova superioridade numérica do Marítimo no último terço do Moreirense. Edgar isolou Joel, com o avançado camaronês a tentar oferecer o golo ao colega. No entanto, o central do Moreirense leu bem o lance e apoderou-se do esférico.

O último apito de Nuno Almeida decretou a ascensão, à condição, do Marítimo ao 6º lugar da Liga. Festa justificada entre a comitiva liderada por Vasco Seabra e todos aqueles que subiram ao Minho em romaria para saudar o Maior das Ilhas e um dos maiores de Portugal. Porque como cantaram os nossos, “o orgulho da Madeira somos nós.”

Segue-se o Vitória Sport Club no nosso Caldeirão.

Vamos a eles. E saudai o Marítimo.