Declarações de João Henriques após uma derrota particularmente dolorosa. Vítor Ferreira, o árbitro da partida, foi o homem do jogo ao assinalar uma grande penalidade que seria cómica, não fosse trágica.

Noite de peregrinação ao Caldeirão. O Maior das Ilhas recebeu o Casa Pia AC, em jogo da 8ª jornada da Liga Portugal Bwin. A Família verde-rubra respondeu ao toque a rebate e dotou o Caldeirão daquela temperatura que intimida quem nos visita. João Henriques promoveu o regresso à titularidade do checo Trmal, recuperado de lesão, bem como de André Vidigal, jogador que cumpriu castigo na pretérita jornada. Também Beltrame voltou aos eleitos iniciais. Na defesa, Winck e Vítor Costa nas laterais, com Mosquera e Leo Andrade ao centro. À frente dos centrais, João Afonso e Diogo Gomes preenchiam o “miolo”, com as alas entregues a Vidigal e a Xadas. Na frente, o internacional camaronês Joel Tagueu, apoiado por Beltrame. Antes de se iniciar a partida, fez-se silêncio. Homenagem às vítimas da tragédia ocorrida num jogo de futebol na Indonésia. Como sempre, os Madeirenses sabem que é a dor e respeitam-na.

Joel foi o primeiro a tocar na bola. O Marítimo dedicou-se, de imediato, à circulação. Aos 2 minutos, Vítor Costa infiltrou-se pelo seu corredor e cruzou para um corte com a mão do adversário. Na cobrança do livre, Beltrame tentou alvejar a baliza do Casa Pia, mas a bola saiu por cima. O Casa Pia retaliou com cheiro a golo. Cruzamento da esquerda  e Clayton, de cabeça, fez o esférico rasar o poste esquerdo de Trmal. O sustou não abalou o Marítimo. A equipa manteve a matriz e, após boa circulação, Xadas recebeu na direita, flectiu para o centro e desferiu um tiro que surpreendeu Ricardo Batista. Golo do Marítimo, erupção do Caldeirão. O Marítimo estava na frente aos 10 minutos.

O Casa Pia esteve perto do empate aos 15 minutos. Novo entendimento pelo lado esquerdo, o cruzamento saiu tento e viperino. Lucas, ao segundo poste, antecipou-se aos defesas madeirenses e, com Trmal batido, desviou sem a mira calibrada. As ameaças surtiram efeito. De novo pela esquerda, a equipa lisboeta bateu o último reduto insular e Clayton apareceu, isolado, para um golo fácil. Empate nos Barreiros aos 18 minutos.

Jogo intenso. Aos 23 minutos, Winck ganhou metros na direita e conquistou canto. Xadas encarregou-se da cobrança. No duelo aéreo, o Marítimo esteve perto de regressar à vantagem. O Casa Pia, sempre acutilante nas transições, ripostou e Clayton dispôs de oportunidade para bisar. Já com a baliza deserta, João Afonso redimiu o Marítimo. Aos 28 minutos, Winck subiu como uma flecha, chegou primeiro à bola e sofreu falta dura. Cartão amarelo para o defesa dos “gansos” e livre para Xadas. O esquerdino atirou ao ângulo superior esquerdo de Batista, guardião que voou para evitar o segundo de Xadas e do Marítimo. Insistia o Marítimo, desta vez com incursão de Beltrame. O italiano, ao seu estilo, superou adversários e disparou forte, mas por cima da barra. Aos 40, Vítor Costa foi travado em falta. Xadas, sempre ele, executou o livre, fazendo a bola cair no coração da área à espera do toque feliz. Foi mais lesta a defesa lisboeta. Dissipou-se o perigo.

O jogo aproximava-se do intervalo quando Leo Andrade sofreu aparente carga nas costas. Inicialmente, Vítor Ferreira não se pronunciou, mas foi alertado pelo VAR. Inapelável. Leo sofreu mesmo falta e Vítor Ferreira apontou para a marca de grande penalidade. Zolotic, o infractor, viu o segundo amarelo e foi expulso. Expectativa no Caldeirão, muita esperança. Na execução, Xadas bateu forte para o lado esquerdo do Ricardo Batista, com o guarda-redes dos “gansos” a protagonizar uma inacreditável defesa, sem descurar a colaboração do poste esquerdo. O Marítimo desperdiçava oportunidade olímpica para sair a vencer para o intervalo.

O Marítimo regressou para a segunda parte sem alterações no onze. O técnico do Casa Pia, Filipe Martins, mexeu, retirou Kunki e reforçou o eixo defensivo com o central João Nunes. Entrada a pressionar dos verde-rubros, muito activo o flanco esquerdo, destacando-se Vítor Costa. Do outro lado, Winck ocupava zonas mais adiantadas, como um extremo. Foi Winck quem apareceu ao segundo poste para tentar o desvio de cabeça, mas o defesa lisboeta antecipou-se. Aos 52, Vidigal surgiu nas costas da última linha do Casa Pia e serviu Joel. Enredado, o ponta-de-lança encontrou Winck. Com o pé esquerdo, o brasileiro tentou colocar no ângulo inferior direito de Batista, mas surgiu o corte. Jogo de sentido único. Aos 54, Vidigal ganhou canto. Na cobrança, Mosquera saltou com o guardião adversário, queixando-se Ricardo Batista de falta. O guarda-redes do Casa Pia começava a queimar tempo. Aos 55 minutos, novo livre para o Marítimo. Beltrame assumiu a cobrança e a bola cruzou toda a área adversária sem que aparecesse o desvio da felicidade.

João Henriques, aos 60 minutos, retirou João Afonso e lançou Geny Catamo. Estreia absoluta do internacional moçambicano ao serviço do Marítimo. Logo na primeira intervenção, Geny encontrou espaços que possibilitaram a Winck o cruzamento que culminou com o remate de Vítor Costa. Gritou-se golo, mas o esférico voltou a não encontrar as redes de Batista. Na resposta, Vítor Ferreira expulsou Vítor Costa por considerar que o lateral, em desequilíbrio e de costas, pisou, de propósito, o adversário. Inacreditável. Sem rodeios: um absoluto escândalo que não pode passar impune. Não pode. Grande penalidade para o Casa Pia. Golo do Casa Pia. Segue o baile.

João Henriques, de imediato, lançou Fábio China e Rafael Brito para os lugares de Beltrame e de Mosquera, central que apresentava queixas após uma bola dividida. Aos 79, lugar para as entradas de Edgar Costa e de Chucho Ramírez. Saíram Vidigal e Xadas. Na jogada imediata, Joel ganhou nas alturas e cabeceou por cima. O Marítimo insistia, sufocava, mas o Casa Pia ia conseguindo rechaçar as investidas com sorte à mistura. Por duas vezes, o esférico voltou a cruzar toda a área de Ricardo Batista sem o toque redentor. Entretanto, Vítor Ferreira concedeu 10 minutos de tempo-extra.

A toada manteve-se. O Casa Pia todo encolhido no seu meio-campo defensivo e o Marítimo a tentar de todas as maneiras. O insólito persegue o Marítimo. Joel atirou ao poste e Ricardo Batista viu a bola cair-lhe no colo. Inacreditável. Pouco depois, Chucho Ramírez teve tudo para empatar. Surgiu sozinho na pequena-área, mas cabeceou por cima. O jogo terminou com a derrota do Marítimo e a ovação a uma equipa que, hoje, foi desrespeitada e ultrajada por Vítor Ferreira e seus pares.