O Mortágua bateu-se muito bem, ainda reduziu, mas os homens de Tulipa não tremeram e avançaram para uma justa goleada.

A Prova Rainha do Futebol lusitano regressou ao Caldeirão dos Barreiros e com honras de directo no Youtube do Club Sport Marítimo. Élvio Faria narrou e Chico Gouveia, velha glória verde-rubra, comentou. Um grande trabalho que proporcionou a tantos a possibilidade de acompanharem a partida.

Na 3ª eliminatória da Taça de Portugal, o Maior das Ilhas foi anfitrião do Mortágua FC, duelo inédito na História das duas instituições. Tulipa promoveu várias alterações no “onze”. Amir regressou à baliza no Caldeirão, depois da sua estreia no Barreiro, também para a Taça de Portugal. Na defesa, Tomás Domingos e China nas laterais, com Zainadine e René no centro da defesa. Destaque natural para Zainadine, em estreia entre os titulares nesta temporada. No meio-campo, Marcos Silva à frente dos centrais e em transição para os homens com a responsabilidade de transportar jogo para o ponta-de-lança Bica, outra estreia como titular: João Tavares e Xadas. Euller Silva e Baraye, nas alas, também mereceram a primazia, outras estreias no “onze”.

O Mortágua foi a equipa que fez mexer o esférico e, logo no primeiro minuto, mostrou ousadia. Jogada pela esquerda e cruzamento que sobrevoou a baliza de Amir, atento. Respondeu o Marítimo com uma boa jogada que envolveu Marcos Silva, Euller e Baraye, com o senegalês a conquistar a linha de fundo e a cruzar, mas sem perigo. Primeiro alerta dos homens de Tulipa, comprometidos com uma dinâmica ofensiva assente na posse e circulação criteriosa. Xadas cobrou o primeiro pontapé de canto da partida aos 6 minutos, provocando dificuldades ao guardião Alexandre Verdade, obrigado a socar perante a ameaça dos verde-rubros.

Aos 7 minutos, abertura primorosa de Marcos Silva para a esquerda, China recebeu e tocou para João Tavares, o 10 procurou Tomás Domingos que já se isolava pela direita, o central forasteiro cortou de cabeça e a bola ficou à mercê de Bica. Sem contemplações, o jovem ponta-de-lança disparou fortíssimo, a bola sofreu um desvio no central e traiu Alexandre Verdade, o o guardião que deverá ter-se questionado “é mesmo verdade”? É. Golo do Marítimo, Caldeirão em erupção. Estreia memorável de Bica como titular, coroada, até ao momento, com um grande golo.

O Marítimo continuava a tentar encostar o Mortágua ao seu último reduto. Aos 15 minutos, nova abertura na direita para a subida de Tomás Domingos, sempre muito disponível, o lateral cruzou para Bica que, ao preparar o remate em rotação, sofreu falta para castigo máximo. O árbitro Márcio Torres não hesitou e Xadas assumiu a grande penalidade “by the book”. Golo do Marítimo, vantagem de 2 golos aos 16 minutos. Bica decisivo outra vez.

Caldeirão muito bem composto: 4381 espectadores. Aos 24 minutos, momento muito bonito protagonizado pelas duas falagens de apoio. De um lado, os auto-intitulados “Templários”, do outro”, os auto-intitulados “Fanatics13”: diálogo arrepiante a atravessar todo o Estádio com o cântico “Força Marítimo olé olé”. Bravo. Que devoção, que lealade inabalável do Maritimismo.

No relvado, os endiabrados campeões das ilhas procuravam o terceiro golo. Circulação em busca de espaços que apareceram à esquerda, com China a convocar a velocidade de Baraye. O extremo venceu o duelo com o opositor e ofereceu o golo a Bica, mas o remate do jovem internacional português saiu muito por cima. Pouco depois, aos 30, de novo Tomás Domingos a investir pela direita, após excelente circulação desde Zainadine, com o lateral a procurar o omnipresente Bica. O avançado dominou e voltou a disparar um obus, mas o defesa do Mortágua deu o corpo ao manifesto. Cartão de visita de Bica: muita mobilidade, processos simples e uma muita apelativa avidez pela baliza.

Euller também estava muito activo e, aos 32 minutos, apareceu no centro, ganhou metros e rematou de longe, mas um desequilíbrio no momento de assentar o pé de apoio protegeu o Mortágua de males maiores, com a bola a sair ligeiramente ao lado do poste esquerdo.

Grande jogada do Marítimo aos 36 minutos. Euller de novo pelo meio, abertura em China, tabela com Bica que devolveu ao madeirense, cruzamento exímio para o cabeceamento de Xadas. Bola ao lado do poste de esquerdo, mas fica na retina, de novo, a grande mobilidade de Euller e de Bica, para além da primorosa execução técnica de China. Insistia e persistia o Maior das Ilhas. Pela direita, Tomás Domingos apareceu nas costas de Xadas, o esquerdino ofereceu de tacão e o lateral cruzou rasteiro para o desvio do guardião. A bola ficou a saltitar na pequena-área, mas os defesas do Mortágua foram mais lestos e afastaram o perigo. As alas do Marítimo com grande fulgor.

Bica esteve muito perto de bisar aos 41 minutos. O guardião forasteiro saiu a jogar, o central devolveu com pouca convicção, Bica, sempre feroz na caça, antecipou-se, recuperou a bola e rematou, mas Alexandre Verdade fez a “mancha” e evitou novo golo de Bica e do Marítimo.

Os Leões do Almirante Reis regressaram para a segunda parte sem alterações no “onze”. E sem alterações na voracidade com que procuravam a baliza adversária. Xadas, logo no primeiro minuto, disparou de longe, Alexandre Verdade não conseguiu segurar e Bica, na recarga, encostou para o terceiro golo. No entanto, o ponta-de-lança estava em posição irregular no momento do remate de Xadas. Bica: felino e ferino.

O inesperado aconteceu aos 50 minutos. Bela incursão do Mortágua pelo flanco esquerdo, cruzamento, Amir bem posicionado para segurar sem dificuldade, mas um desvio do seu defesa permitiu que a bola chegasse a João Pais que, sem oposição, cabeceou para golo. 2-1 no Caldeirão.

Márcio Torres estreou-se na acção disciplinar aos 52 minutos. Euller Silva perfurou, procurava o remate e foi agarrado durante alguns metros. Amarelo para Rodrigo Bastos. Na execução do livre, Euller bateu com força e precisão, obrigado Alexandre Verdade a uma defesa de recurso. A força que a bola levava atirou o guardião contra o poste direito. Depois, bom diálogo entre os artífices do ataque verde-rubro, cruzamento de Xadas para Bica, o português dominou e rematou para defesa do guardião. Na recarga, Tomás Domingos marcou. No entanto, a equipa de arbitragem considerou que Bica estava em fora-de-jogo. Muitas dúvidas.

Aos 65 minutos, Tulipa chamou Igor Julião, Lucas Silva e Platiny, jogadores que renderam Tomás Domingos, Baraye e Bica. Antes, o Marítimo desperdiçou uma flagrante oportunidade. Excelente a abnegação de Baraye a recuperar a bola na área forasteira, ofereceu a Bica que, por sua vez, assistiu Euller. O brasileiro calibrou a mira e atirou para golo, mas um corte providencial impediu o golo.

Grande golo do Marítimo aos 71 minutos. Brilhante combinação no flanco direito a envolver Igor Julião, Xadas e Marcos Silva, com o médio a proporcionar liberdade absoluta para Igor Julião tirar um cruzamento mortífero para o desvio de Platiny. Alexandre Verdade realizou uma excelente defesa, mas João Tavares, na recarga, não perdoou. 3-1 para o Marítimo a cerca de 20 minutos dos 90. Notável construção atacante dos homens de Tulipa.

Empolgados e com nota artística. Aos 76, René encontrou Igor Julião na profundidade, o lateral combinou com Platiny e isolou-se, mas o central impôs o físico e afastou Julião do golo. Aprumo técnico e visão límpida de Platiny, a assistir Julião de primeira.

Um dos momentos do jogo aconteceu aos 79 minutos: Bernardo Gomes, filho de Danny, entrou para o lugar de João Tavares. Muitos aplausos de um Caldeirão que saudou a estreia de Bernardo Gomes na principal equipa do Marítimo. O legado de Danny, depois da estreia de Francisco Gomes na temporada passada, reforça-se. Em simultâneo, Xadas cedeu o seu lugar a Diogo Mendes, o médio que se tornou internacional por Cabo Verde na semana transacta.

Bernardo Gomes foi um dos obreiros da jogada que originou grande penalidade sobre Platiny. Primorosa teia urdida pelos verde-rubros, a bola passou por China, Marcos, Bernardo e Lucas, com o melhor marcador do Marítimo a isolar Platiny. O ponta-de-lança contornou o guarda-redes e foi derrubado. O mesmo Platiny assumiu a marcação do penalty e não perdoou. 4-1 para o Marítimo, a próxima eliminatória garantida.

O árbitro da partida concedeu 3 minutos de uma História já contada, embora os verde-rubros procurassem o 5º golo que poderia ter chegado por Marcos Silva.

Bela exibição do Marítimo, bela exibição do Maritimismo. O sonho do Jamor continua.