Os rapazes do Almirante Reis mereciam, pelo menos, o empate, após toda a segunda parte com menos um jogador.

Caldeirão em lava para apoiar o Maior das Ilhas no duelo frente à equipa lisboeta do Benfica. Vasco Seabra promoveu alterações no onze que subiu à cimeira insular, em São Miguel. Joel, depois de cumprir castigo, regressou aos titulares, o mesmo sucedendo com Rossi. O maestro italiano Beltrame, plenamente recuperado da lesão que o afastou – e já depois de ter actuado na grande segunda parte do Marítimo nos Açores -, também mereceu a primazia do mister Seabra.

Nova falsa partida do Marítimo. Perda de bola em zona proibida, Paulo Victor ainda defendeu o primeiro remate, mas foi incapaz de suster a recarga de Darwin. Dois minutos e a equipa forasteira na frente.

Reagiu de imediato o Caldeirão, sempre inexcedível. Joel, aos 3 minutos, com um cabeceamento ainda fora da área, testou o guardião adversário. Logo depois, incursão de Beltrame em diagonal da direita para o centro, com o italiano a rematar ligeiramente ao lado do ninho das águias. Cheirou a golo no Caldeirão. Aos 6 minutos, Winck conquistou território, chegou à linha e cruzou, rasteiro e tenso. Joel e Vidigal não foram lestos o suficiente para o desvio da felicidade. Boa reacção do Leão insular, embora reincidente nas transições pouco calibradas, a permitir ao Benfica ameaças a Paulo Victor.

Beltrame assumia cada vez mais a batuta no meio-campo. Aos 12 minutos, o italiano libertou-se de adversários, invadiu o meio-campo forasteiro e serviu Vidigal. Na esquerda, o extremo divergiu para o centro e rematou, em excelente posição, para defesa fácil do Vlachodimos. Insistia o Marítimo pela esquerda. Edgar Costa foi travado em falta e o próprio Capitãe encarregou-se de bater o livre. Cobrança forte, mira certa, mas valeu o desvio de Darwin para canto. Trepidou o Caldeirão com a iminência do golo verde-rubro.

20 minutos. Canto para o Marítimo do lado esquerdo. Edgar para a cobrança e arte no Caldeirão. Winck, em pontapé acrobático, quase escrevia um poema de antologia. Por momentos, o Caldeirão fez silêncio, aquele silêncio do espanto, mas a bola passou por cima da trave. Aos 23 minutos, Winck foi travado em falta quando se preparava para invadir a área benfiquista. Reclamou o Caldeirão, mas Hélder Malheiro mandou seguir. Respondeu o adversário com um tiro muito perigoso de Ewerton. Passou o susto.

38 minutos e o Marítimo esteve perto do golo, a melhor oportunidade até ao momento. Winck recuperou uma bola que parecia perdida, junto à bandeirola de canto, encontrou Joel na área, mas o camaronês, desta vez, não foi cruel. Na recarga, Edgar chutou fortíssimo, à entrada da área. Vlachodimos foi salvo pelo corte do seu defesa. Pouco depois, disputa de bola viril. Edgar ganhou no duelo físico, mas Hélder Malheiro considerou que o nosso Capitão mereceu amarelo. Incompreensível. Levantou-se o banco do Marítimo, exasperado e incrédulo. Luís Olim também foi admoestado. Hélder Malheiro veio para ser protagonista. Logo no lance posterior, mostrou cartão vermelho directo a Winck após um embate absolutamente involuntário com Sandro Cruz. O VAR, aparentemente, não interveio. Volta o Marítimo a sofrer uma expulsão por excesso de zelo do árbitro, tal como tinha acontecido com Joel frente à B SAD. Nesse lance, ainda mais absurdo, Joel cortou a bola e o contacto foi posterior, já com o pé do camaronês encolhido. Aí o VAR interveio. Bem, fica assim, não é, senhor árbitro?

O Marítimo não se rende. Fomos para cima deles. Vítor Costa foi derrubado quando se acercava da área adversária. Hélder Malheiro pareceu hesitar, mas acabou por assinalar falta e mostrou amarelo ao defesa contrário. Na execução do livre, Beltrame fez a bola rasar o ângulo superior esquerdo dos lisboetas. O intervalo chegou com um ambiente faiscante no Caldeirão. Sensação de injustiça atroz. Vasco Seabra dirigiu-se ao árbitro da partida. Polido como é seu apanágio, e não obstante a indignação, manifestou a sua incompreensão para com a decisão de expulsar Winck.

O Marítimo regressou para a segunda metade com os 10 que terminaram o primeiro tempo. Seabra mandou para aquecimento Alipour, Miguel Sousa e Clésio logo no reatamento. Os forasteiros aproveitaram a inferioridade numérica do Maior das Ilhas para assustar Paulo Victor nos minutos iniciais. Aos 54 minutos, bela transição do Marítimo. Edgar Costa soltou-se, serviu Vidigal, agora dono de um corredor privado de Winck, com o extremo a cruzar forte. Antecipou-se o guardião adversário perante a ameaça de Joel. Aos 56, de novo Vidigal a trocar as voltas a Sandro Cruz, antes de cruzar para Joel. O camaronês ganhou nas alturas e desferiu um golpe de cabeça, como ditam as regras. No entanto, Vlachodimos opôs-se bem. O Marítimo por cima de um Benfica a jogar com mais um. Grande solidariedade dos rapazes do Almirante Reis.

O Benfica esteve perto de dilatar a vantagem aos 59 minutos. Cruzamento de Darwin, na direita, e João Mário apareceu solto na área. O remate, em “moinho”, saiu forte, mas por cima. Retaliou o Marítimo com muita qualidade. Combinação exímia de Beltrame com Edgar Costa, cruzamento perfeito para a área. O Caldeirão susteve o grito. Esperava-se a entrada de rompante de Joel, mas o camaronês chegou tarde. Com menos um, o Marítimo já justificava o empate. Notável o compromisso dos nossos jogadores que faziam o que prometeu Seabra: muito suor, muito empenho na disputa de cada centímetro de relvado. Não previa Seabra que o Marítimo tivesse mais adversários do que os 11 que vieram de Lisboa.

Continuava o Leão a arranhar papoilas. Aos 69 minutos, pediu-se grande penalidade nos Barreiros, após queda de Joel, derrubado por Vlachodimos. O fiscal subiu a bandeirola para assinalar fora-de-jogo a Joel. Correcta decisão. No entanto, caso o avançado maritimista estivesse em posição regular, Hélder Malheiro não teria assinalado castigo máximo. E nunca saberemos se o VAR interviria.

Clésio e  Alipour foram os primeiros Leões lançados do banco para a arena. Saíram Joel e o Capitão Edgar Costa. No aquecimento, continuava Miguel Sousa, ao qual se juntaram Pelágio, Henrique e Xadas. Entrou bem Clésio. A actuar no flanco esquerdo, como já tinha acontecido em São Miguel, o internacional moçambicano renovou o fulgor atacante do Marítimo. Aos 77 minutos, numa diagonal, o extremo disparou forte, ainda longe, mas o tiro saiu à figura do guarda-redes encarnado.

Aos 82 minutos, Clésio foi convocado para a profundidade. Sem preparação, e com Vlachodimos adiantado, o moçambicano merecia assinar um dos golos do campeonato. Infelizmente, nem sempre o futebol compensa a arte e a bola saiu ao lado. Logo depois, Seabra fez sair Beltrame. Para o lugar do maestro, Miguel Sousa. Aos 88, Seabra voltou a mexer. Saíram Rossi e Vidigal para as entradas de Henrique e de Pelágio. Clésio assumiu o corredor direito e Henrique assumiu o flanco esquerdo. Já nos descontos, Vítor Costa obrigou o guardião contrário à defesa da tarde. A bola já se encaminhava para as redes quando Vlachodimos, in extremis, tocou para canto. Inglório. Mais do que merecido o empate. Que orgulho e altivez de um Marítimo que jogou de igual para igual, mesmo quando “igualdade” é conceito que muitos teimam em não aprender.

Num jogo com a melhor casa da época – 9102 espectadores -, Hélder Malheiro, show man, apitou para o fim. Obrigado, rapazes, por honrarem o nosso Marítimo. Este é o Marítimo das odisseias, um Leão altivo e acostumado a sobreviver às feridas desde 1910. Uma palavra para os muitos Maritimistas que nunca abandonam o Maior das Ilhas. Outra palavra para os maritimistas-quase-sempre que, não obstante os apelos ao respeito pela família verde-rubra, ousaram usar camisolas do adversário nos espaços destinados aos nossos, aos verdadeiros Maritimistas.

Saudai o Marítimo.