Bárbara Santos, guarda-redes do Club Sport Marítimo, foi a protagonista do programa ‘Marítimo na TSF’, conduzido por Élvio Faria. Desde a manhã de Domingo, o nome de Bárbara Santos – que está “a viver um sonho” – deverá ter sido o mais pronunciado no universo Maritimista. E mais além. O golo de antologia que assinou frente ao SC Braga provocou um efeito de contágio sem fronteiras. De imediato, começaram a multiplicar-se vídeos nas redes sociais. Vejamos: a guardiã verde-rubra assume a cobrança de um livre ainda antes da linha divisória. Ajeita a bola, recua alguns metros, contempla o meio-campo contrário como quem vislumbra a glória no horizonte. Parte para a bola e é aí que começa o espanto. Primeiro, o silêncio de quem estava no Campo Adelino Rodrigues, todos de olhos no roteiro de uma bola destinada à grande Beleza. De repente, como se demorassem a acreditar, a euforia galopante.

Nas bancadas, adeptos do Marítimo levam as mãos à cabeça, esfregam os olhos, ainda duvidam. Aconteceu mesmo. Bárbara Santos, guarda-redes, acabava de assinar um momento inolvidável, ao marcar um golo desde o meio-campo. As colegas envolvem-na e a jovem guarda-redes corre para o banco. Um momento de comunhão entre todas as jogadoras e equipa técnica, com Quim, o treinador de guarda-redes da nossa formação, especialmente emocionado. Já lá vamos.

A euforia após o golo antológico

Bárbara garante que o lance foi intencional. “Há gente que diz o contrário, que era para cruzar. Mas não. Já andava a tentar há algum tempo. Sou sempre eu quem bate os livres naquela zona, porque permite à equipa subir linhas. Vi que a Patrícia Morais estava um pouco adiantada e aproveitei o vento. Já ambicionava marcar um golo assim e, desta vez, aconteceu”. E aconteceu em directo na Sport TV, coincidência afortunada que potenciou o impacto mediático do “golão”.

A relação de Bárbara com a baliza tem primórdios um pouco rocambolescos. A jogar noutro clube, na altura, Bárbara actuava na frente. “Só via a baliza”, explica, o que lhe trouxe alguns dissabores. “Era muito individualista. Um dia, após um remate meu, parti um dedo à minha prima, a guarda-redes. Foi nesse momento que me fiz de esperta e fui para a baliza substituí-la”, recorda com um sorriso que mistura emoção, humildade e embaraço. Hoje, Bárbara continua a só ver baliza. A sua, que defende como ninguém. E a do adversário. Patrícia Morais, titular da Selecção Nacional, que o diga.

Bárbara Santos confessa que nasceu para jogar futebol. Ainda tentou o andebol, “mas não era para mim. Eu queria jogar futebol.” Em boa hora transitou para o desporto-rei e em boa hora passou a envergar as cores do Maior das Ilhas. Internacional portuguesa pelos escalões de formação, a jovem madeirense foi a estrela maior do campeonato europeu de sub-19, em 2012. Foram incontáveis defesas que permitiram a Portugal alcançar as meias-finais. Caímos frente às espanholas. Se dependesse só de Bárbara, Portugal teria sido campeão. No final do jogo, ficou na retina o sofrimento da nossa guardiã, a chorar em pleno relvado. A chorar por saber que tantas intervenções brilhantes não foram suficientes para levar Portugal ao título. Agora, aos 28 anos, Bárbara tem sido convocada para a principal selecção portuguesa, mas ainda aguarda a primeira internacionalização. Que vai acontecer não tarda, acreditamos todos. O talento da nossa atleta é demasiado evidente.

O Club Sport Marítimo está envolvido na fase de apuramento da equipa campeã nacional. Bárbara Santos aponta para um 5º ou 6º lugares como propósito colectivo. Já no próximo Sábado, pelas 10h, as leoas da Almirante Reis recebem, no Campo Adelino Rodrigues, a formação do Vilaverdense. Em causa está a passagem aos quartos-de-final da Taça de Portugal. Confiante na vitória, Bárbara Santos apela à presença dos adeptos, tal como aconteceu contra o Braga. “A força deles fez-nos crescer”. Prognósticos? “Ganhar. Ganhar sempre, só pensamos em ganhar”. Um discurso que demonstra a avidez de vitórias que reina na nossa equipa de futebol feminino.

A evolução de Bárbara Santos é indissociável do trabalho realizado por Quim, o grande Quim do Marítimo. Guarda-redes dos Campeões das Ilhas durante quase 10 épocas, Quim foi o guarda-redes que mais jogos disputou na época de estreia do Marítimo na I Divisão, em 77/78. Hoje, Quim é o treinador da nossa formação, um técnico e um homem por quem Bárbara Santos nutre total admiração. Nos jogos mais difíceis, por exemplo, a guardiã padece de um nervosismo extra. “Sei que vou ter muito mais trabalho nos grandes jogos e isso deixa-me mais nervosa, mas o Mister Quim tem sempre a palavra certa. Ele fala comigo e eu acalmo.” Uma relação especial. Notou-se no Sábado passado. Mal terminou o jogo, Quim, aos 67 anos e uma carreira ao mais alto nível de quase 20 anos, celebrou como um miúdo. Com todas as atletas, mas particularmente com Bárbara. Foi um regalo para a vista.

Vídeo: Cortesia Canal 11