O Marítimo empatou em Vizela e ficou aquém do recorde de pontos na condição de visitante.

Nova peregrinação de Maritimistas. Desta vez, Vizela como destino. Para o duelo da penúltima jornada da I Liga, o Maior das Ilhas apresentou-se com Miguel Silva na baliza, um prémio para o guardião que ainda não havia jogado sob o comando de Vasco Seabra. O técnico maritimista introduziu uma outra alteração no onze, chamando Clésio para o lugar do castigado Cláudio Winck. Grande ambiente no Estádio do Vizela, equipa que procurava afastar o espectro do play-off perante um Marítimo tranquilo, mas ambicioso. Como enfatizou Seabra, o Leão do Almirante Reis quer sempre mais. E mais significava conquistar os 6 pontos ainda em disputa, o que também representaria um recorde absoluto do clube na I Liga. Com a vitória no Minho, Seabra tornar-se-ia no treinador que mais pontos conquistou fora de casa, ultrapassando vultos da nossa História: Nelo Vingada e Pedro Martins. Jogo especial para Matheus Costa, central indiscutível entre os eleitos de Seabra. Há um ano, o brasileiro celebrou a subida à I Liga pelo Vizela de Álvaro Pacheco.

Foi o Vizela a primeira equipa a alvejar a baliza do Marítimo, mas Miguel Silva segurou sem dificuldade. Depois, aos 4 minutos, o árbitro Cláudio Pereira considerou que Matheus Costa cometeu falta. Matheus mostrou-se incrédulo. Pelas imagens, não parece ter havido toque. Admoestado com o amarelo, os anfitriões dispuseram de um livre muito perigoso junto à área. Schettine disparou com o golo como endereço, mas Miguel Silva justificou a chamada. Grande voo a evitar o tento inaugural.

Pressionava alto o Vizela, a impedir saídas do Marítimo que, nos minutos iniciais, voltou a perder bolas em zonas críticas. Mérito da formação de Álvaro Pacheco, intensa na pressão. O Marítimo soltou-se, pela primeira vez, aos 10 minutos. Rafik, inventivo, infiltrou-se pelo flanco direito, invadiu a área e cruzou sem que um colega aparecesse para alegrar os Maritimistas.

15 minutos, primeiro canto para os insulares. À maneira curta, jogada de laboratório a encontrar Edgar Costa no corredor central, sem oposição. O Capitão vislumbrou, ao segundo poste, os centrais Zainadine e Matheus. Matheus estava em melhor posição, mas Zainadine não se apercebeu e cabeceou, já em desequilíbrio, para fora. Susto para os vizelenses. Qualidade do Marítimo na criação de espaços.

Entusiasmaram-se os peregrinos do Marítimo. Bem audível uma espécie de apresentação ao País e ao Mundo: “alguns não sabem, mas assim se vê que o nosso Amor é o CSM”. Época inesquecível para o Marítimo fora de portas, com transfusões de Caldeirão por todo o País. Em campo, também a equipa absorvia esse entusiasmo. Aos 19 minutos, Vidigal, em grande forma, isolou-se pelo flanco esquerdo, entrou na área, mas a assistência do extremo foi rejeitada pelos centrais minhotos.

Reagiu a equipa da casa. Perda de bola do Marítimo, transição rápida e Guzzo, que rendeu o lesionado Samu aos 20 minutos, apareceu solto na área. Valeu a grande mancha de Miguel Silva. Ficou novo aviso. Aos 34 minutos, o árbitro Cláudio Pereira não assinalou falta evidente sobre Clésio, quando o Marítimo investia pelo flanco direito. Ficou no chão o internacional moçambicano, o Vizela recuperou o esférico, isolou-se pela esquerda um jogador anfitrião, ultrapassou Miguel Silva e serviu Guzzo. Com o guarda-redes verde-rubro a tentar recuperar a sua posição, notável a solidariedade dos defesas maritimistas. Corte salvífico de Vítor Costa. Na retina, portanto, a entreajuda dos Leões do Almirante Reis. Na rotina, critérios díspares de árbitros para os quais há faltas e faltas. Enfim, the show must go on.

Mais Vizela na primeira parte, algumas dificuldades do Marítimo na construção do ataque, mas coesos no momento de baixar linhas. Já perto do intervalo, Matheus Costa aventurou-se no ataque, ganhou metros, serviu Vidigal na esquerda, extremo que mediu bem o cruzamento para Beltrame. O maestro dominou com o peito e preparava-se para desferir o remate quando surgiu a intervenção do central adversário. Bom jogo de futebol em Vizela, grande promoção do desportivismo no Minho, com os adeptos de ambas as equipas a revezarem-se, como se tivessem ensaiado, nos cânticos pelo Amor que os move.

O regresso das equipas ao relvado não trouxe alterações nos “onze”  de cada lado que terminaram a primeira parte. Entrada de Leão dos madeirenses. Rafik esgueirou-se, combinou com Clésio, o moçambicano trocou as voltas ao opositor e procurou colega no coração da área. O remate de Beltrame foi desviado pelo defesa vizelense. Alerta marítimo para agitação no flanco direito. Logo depois, de novo Rafik a ultrapassar três adversários, mas os centrais minhotos conseguiram travar o francês. Continuava o Marítimo a ameaçar. Aos 49, Vidigal diverge da esquerda para o centro e executa um cruzamento-remate que obrigou Pedro Silva a uma grande defesa. Excelente entrada do Marítimo para os últimos 45 minutos da época na condição de forasteiro.

Perdeu fulgor o Marítimo e marcou o Vizela. Aos 55 minutos, erro de Zainadine a permitir o roubo de bola de Cassiano, avançado que assistiu Kiko para o golo que deixou em euforia os adeptos vizelenses. Queixou-se o Marítimo de falta sobre Zainadine. O VAR interveio e validou o golo. Pouco depois, desaguisado entre Rossi e um jogador vizelense. Amarelo para Rossi e o primeiro vermelho da carreira para Vasco Seabra, um homem cuja conduta é sempre irrepreensível, mas não é imune à indignação. Inacreditável a facilidade com que se expulsam elementos do Marítimo quando, noutros estádios deste país, há treinadores que parecem inimputáveis. Mas a raça do Leão não vacila perante tantas arbitrariedades. Prosseguiu o jogo e Rafik empatou a partida. Que alma. Que alma a desta equipa, agora privada do seu técnico no banco.

Bola ao centro e o Leão salivava por mais. Vidigal esteve muito perto do segundo golo madeirense. Ia mordendo o Marítimo, ainda mais empolgado perante tantos adversários em campo. Jogo muito vivo. O Vizela esteve perto de marcar depois de um canto para o Marítimo. Edgar Costa encontrou Beltrame, no corredor central, com o italiano a dominar bem, mas o remate saiu fraco. Retaliou em contra-ataque rapidíssimo o Vizela. Bola na direita, recepção e bola na esquerda. Clésio conseguiu encurtar o ângulo do extremo vizelense e o remate saiu à malha lateral de Miguel Silva. Seabra, nas bancadas, mexeu no onze. Entrou Alipour e saiu Joel. 15 minutos para jogar, 1-1 no Estádio do Vizela.

O Marítimo esteve muito perto de se adiantar no marcador. Edgar Costa, com um cruzamento viperino, obrigou Pedro Silva a uma defesa pouco ortodoxa, ao jeito do andebol. A bola já se encaminhava para a baliza minhota. Queria mais o Marítimo, como prometera Seabra, técnico que voltou a intervir com as entradas de Miguel Sousa e de Henrique. Saíram Edgar Costa e Clésio, internacional moçambicano que já apresentava queixas físicas há largos minutos. Mais um grande jogo de Clésio, jogador que nunca perde uma oportunidade para mostrar grandes qualidades.

Aos 81 minutos, Alipour ganhou em velocidade e rematou com pé esquerdo. Pedro Silva aplicou-se e defendeu para a frente, mas não havia verde-rubros para a recarga. Entretanto, nova contrariedade para o Marítimo: Matheus Costa lesionou-se, após disputa de bola com Cassiano. Léo Andrade rendeu Matheus, aplaudido por Maritimistas e vizelenses enquanto saía de maca. Não se esquecem os vizelenses do contributo de Matheus Costa para a ascensão dos minhotos à I Liga, na época passada. Em simultâneo, última alteração no Maior das Ilhas: Xadas substituiu Rafik. 5 minutos para os 90 e o Marítimo procurava o recorde absoluto de pontos fora de casa. Do lado minhoto, a festa pela manutenção garantida, já que o Gil Vicente, em Barcelos, goleava o Tondela por 3-0. Mesmo com uma eventual derrota frente ao Marítimo, a festa já estava assegurada. E esteve perto de acontecer essa derrota minhota, mas o Marítimo não foi feliz.

Cláudio Pereira concedeu 6 minutos de tempo-extra. O Marítimo mantinha as ameaças. Livre para Xadas, perigo para as redes caseiras. Canto para o Marítimo e sucessivos remates, já dentro da área, mas sempre com homens de azul em forma de barreira. Já merecia o golo a equipa de Vasco Seabra. Merecia a vitória o Leão insular. Não aconteceu. Fez a festa o Vizela. Ficou a amargura entre os Maritimistas, para quem os três pontos seriam a perfeita coroação de uma época indelével. As romarias por todo o país, por Amor ao Maior das Ilhas, vieram para ficar. Aquém do recorde absoluto de pontos fora de casa, registe-se a grande abnegação do Marítimo, até ao último segundo, pelo golo que esta equipa e os nossos verdadeiros devotos mereciam.

O Orgulho da Madeira somos nós

Parabéns, Marítimo. Parabéns, Vizela e vizelenses, pela manutenção entre equipas grandes como o Maior das Ilhas e um dos Maiores de Portugal.

Saudai o Marítimo.