O Marítimo desperdiçou uma grande penalidade numa altura em que o jogo estava empatado a uma bola. Notável compromisso dos verde-rubros num grito de revolta.
O Leão do Almirante Reis deslocou-se ao terreno da Pantera para o duelo da 9ª jornada da Liga Portugal Bwin. No Bessa, João Henriques lançou Fábio China no “onze”, com o madeirense a assumir a sua posição de raiz na lateral esquerda. Perante as lesões de Zainadine e de Mosquera, havia a expectativa de ver Matheus Costa de regresso aos titulares, mas o central iniciou o jogo no banco, pelo que Leo Andrade fez dupla no eixo da defesa com João Afonso, enquanto Winck manteve primazia no flanco direito Rafael Brito estreou-se como titular no “miolo”, actuando perto de Diogo Mendes na zona de transição. Na frente, João Henriques conservou o dispositivo atacante com Beltrame como 10, Xadas e Vidigal nas alas e Joel Tagueu, portador da braçadeira de capitão, na frente.
Muita crença nas bancadas do Bessa, com a legião verde-rubra a viajar até à Invicta numa nova prova de que o Maritimismo está muito para além das circunstâncias. Bem audíveis os cânticos de apoio ao Marítimo, interrompidos logo aos dois minutos por um golo dos anfitriões, de imediato bem anulado por fora-de-jogo. Aos 5 minutos, Winck recuperou a bola na saída do Boavista e disparou um míssil, do meio da rua, que merecia entrar nos compêndios. O Bessa susteve a respiração. Na resposta, Bruno Lourenço aproveitou erro na saída do Marítimo e tentou surpreender Trmal com um “chapéu” que ainda roçou a barra. Jogo de vertigens entre dois grandes do futebol luso.
O primeiro canto da partida aconteceu aos 11 minutos. Xadas encarregou-se da cobrança. Na sequência, dois novos cantos. Três cantos consecutivos que provocaram calafrios nos “axadrezados”. A defesa boavisteira afastou, mas o Marítimo insistia e Beltrame ganhou falta. Xadas atirou com selo de golo, mas Bracali voou para evitar o rugido do Leão insular. Pressão forte do Marítimo a impedir a construção do Boavista, obrigado a cometer erros por força da ocupação territorial dos madeirenses. 20 minutos de qualidade por parte da formação de João Henriques, traídos pelo golo do Boavista. Sebastian Perez antecipou-se a toda a defesa insular e desviou, ao primeiro poste, para o golo inaugural no Bessa.
O Marítimo manteve a sua identidade. Aos 30 minutos, Joel recebe um passe na área e cai. Em velocidade, e no momento em que tentava travar, o camaronês recebeu um toque nas costas. O intensómetro ainda não existe no futebol, mas quem jogou sabe que um toque nas costas, por ligeiro que possa aparecer numa jogada rápida, é suficiente para afastar o adversário da bola. Luís Godinho parece ter falado com o VAR, mas mandou seguir. Dois minutos depois, Winck sofreu um toque pelas costas junto à linha lateral. Falta assinalada de imediato. Curioso. Muito curioso. Segue o baile. E foi Salvador Agra que, num bailado característico, protagonizou diagonal para o centro e rematou com muito perigo. Muito bom lance individual do jogador “axadrezado”. O Boavista esteve na iminência do segundo golo após erro de João Afonso. Valeu a notável intervenção de Trmal, à guarda-redes de andebol, perante um isolado Yusupha. Logo depois, o Marítimo poderia ter empatado. Incursão rápida pelo flanco esquerdo, Fábio China tirou um cruzamento milimétrico e, com Bracali batido, Vidigal, em finalização semi-acrobática, esforçou-se para calibrar a mira, mas o esférico saiu por cima. Já perto dos 45 minutos, Joel disparou de longe, mas Bracalli estava atento e susteve o esférico. Na compensação, Winck apareceu nas costas da defesa boavisteira e cabeceou para o golo que o Marítimo merecia. De novo, a bola não levou a direcção certa. Luís Godinho apitou para o intervalo com o Boavista com vantagem tangencial.
A segunda parte iniciou-se sem alterações nas equipas. Os primeiros minutos foram muito disputados. No entanto, sem ascendente de qualquer equipa. A primeira ameaça surgiu através de Agra. O português esgueirou-se pela esquerda e serviu Mangas, com Trmal a opor-se bem ao cruzamento-remate. O Marítimo retaliou e marcou. André Vidigal recuperou a bola no meio-campo ofensivo do Marítimo, combinou com Xadas e o esquerdino, com requinte, “picou” sobre a defesa “axadrezada” e isolou Vidigal. Com classe, Vidigal empatou. O Leão do Almirante Reis feria, finalmente, a pantera. Justíssimo o golo verde-rubro.

A falange Maritimista fazia-se ouvir no Bessa. Pouco mais de uma centena a calar 11 mil. 11 + 1 Povo na Invicta e em qualquer lado. O Marítimo procurava o segundo golo, com Xadas em evidència nos remates de meia-distância. Os verde-rubros, mais confiantes, demonstravam qualidade na posse, avultando Vidigal como o jogador mais castigado pelos boavisteiros. Aos 65, o maestro Beltrame soltou-se da pressão e sofreu falta quando se aproximava da área. Barreira cerrada formada por Bracali. A pantera estava assustada. Xadas ajeitou o esférico e disparou, mas o remate saiu muito por cima. O Marítimo sufocava o Boavista e, num remate de ressaca por parte de Rafael Brito, Makouta cortou com o braço. Luís Godinho assinalou grande penalidade. Joel assumiu a conversão e atirou ao ferro. Na recarga, Beltrame cabeceou por cima.
O Boavista ganhou motivação ao escapar à desvantagem. A equipa de Petit cresceu, mas o Marítimo continuava a disputar cada nesga de terreno, cada bola. Um compromisso absoluto para lutar contra tantos infortúnios. Aos 75 minutos, China foi rendido por Matheus Costa e Xadas cedeu o seu lugar a Clésio. Aos 83, Edgar Costa substituiu Beltrame, protagonista de uma exibição que encheu o campo.
O jogo entrou em período de compensação e Trmal voltou a exibir-se em grande plano. Martim Tavares surgiu na cara do checo, mas o guardião foi gigante. Entretanto, Luís Godinho assinalou fora-de-jogo, pelo que fica o registo. Entretanto, quid pro quo no banco “axadrezado” a obrigador Luís Godinho a distribuir castigos disciplinares. Fim de jogo quente no Bessa. Antes, já Joel Tagueu havia saído, entrando para o seu lugar o venezuelano Chucho Ramírez. O jogo terminou com um empate que acaba por saber a pouco, depois de uma exibição plena de identidade e ambição.
Primeiro ponto no campeonato. A reviravolta começou, Maritimistas. Obrigado à Família verde-rubra que, no Bessa, fez com que sentíssemos o amparo caseiro. Bela a comunhão entre a equipa e os adeptos no final do encontro. O Marítimo é muito grande. Juntos rumo aos 39 anos consecutivos na I Liga.